O que significa a sigla HTLV?
HTLV é uma sigla (do inglês Human T-cell Lymphotropic vírus) usada para designar o vírus linfotrópico humano para células T.
O que é o HTLV?
O HTLV é um vírus, microorganismo minúsculo, visível somente em microscópios muito potentes (microscópios eletrônicos), que parasita determinadas células do sistema imunológico humano denominadas linfócitos T. Existem basicamente dois tipos de HTLV, o HTLV-1 e o HTLV-2. Apesar de bastante assemelhados, estes dois vírus comportam-se de modos bastante diferentes no organismo: o HTLV-1 pode causar – embora nem sempre cause – doenças, já o HTLV-2 quase nunca causa qualquer dano ao organismo infectado.
Qual a função das células atacadas pelo HTLV (o linfócito T)?
Os linfócitos T são componentes das células brancas do sangue. São importantes para os mecanismos de defesa contra bactérias, fungos e vírus, além de desempenharem importante papel na destruição de células malignas que queiram se disseminar no nosso corpo. São, portanto, células que defendem o organismo de agressões internas e invasões externas.
Como se pega o HTLV?
Uma pessoa pode se infectar pelo HTLV (1 e 2) basicamente das seguintes maneiras:
>> recebendo transfusão de sangue contaminado pelo vírus;
>> compartilhando agulhas, seringas, ou objetos cortantes (lâminas de barbear, alicates, etc) que
contenham sangue contaminado;
>> através de amamentação com leite materno de mãe que seja infectada pelo vírus;
>> através de relação sexual, não protegida – isto é, sem uso de camisinha – com pessoa
infectada pelo vírus.
** Não se pega HTLV pelo beijo, pelo abraço, pela utilização do mesmo banheiro, pelo ar (tosse, espirro, etc.), ou ainda pelo uso dos mesmos talheres, copos, pratos, toalhas e lençóis.
Como posso saber como peguei o HTLV?
Nem sempre isso é possível. Se você nunca sofreu uma transfusão e nunca usou drogas injetáveis, restam as possibilidades de que você tenha adquirido o vírus pela amamentação ou por via sexual. No primeiro caso, pode-se testar a sua mãe e verificar se ela também é positiva. No segundo caso pode-se testar o(s) seu(s) parceiro(s) sexual. É importante dizer que a contaminação não acontece em 100% dos casos de pessoas que foram amamentadas por mães contaminadas, ou mesmo que tiveram um parceiro sexual sabidamente contaminado. Obviamente quanto maior o tempo de amamentação ou, ainda, quanto mais freqüentes as relações sexuais com a pessoa infectada, maiores serão as chances de contaminação. O uso de preservativos sexuais (camisinha) durante o ato sexual diminui significativamente o risco de contaminação.
Aparentemente é muito mais fácil o homem contaminar a mulher numa relação sexual do que o inverso. Isso ocorre porque o vírus é muito mais abundante no sêmen do que na secreção vaginal.
O teste que eu fiz para ver se estava infectado pelo HTLV, é realmente confiável ou existe a possibilidade dele ser falsamente positivo?
Os testes atualmente utilizados para o diagnóstico da infecção pelo HTLV dividem-se em dois grupos: testes de triagem e testes confirmatórios. Recomenda-se sempre que, antes de se afirmar que uma pessoa tenha o vírus, utilizem-se dois testes, um de cada grupo, para se ter o diagnóstico definitivo.
Os testes de triagem, cujo exemplo mais comum na prática é o teste de ELISA, caracterizam-se pela sua alta sensibilidade, ou seja, eles são extremamente sensíveis na detecção de anticorpos contra o HTLV. Isso reduz a níveis extremamente baixos a possibilidade de falsa-negatividade, isto é, de uma pessoa ser positiva e o teste dar negativo. O problema destes testes está justamente na sua grande sensibilidade: resultados falsamente-positivos podem ocorrer. Para evitar que uma pessoa seja considerada positiva sem o ser é que se recomenda a realização de um outro teste, chamado confirmatório, após um resultado de ELISA positivo.
Os testes confirmatórios mais utilizados no nosso meio são o teste de Western Blot, a imunofluorescência e a PCR. Estes testes – principalmente a PCR – caracterizam-se pela sua grande especificidade. Um indivíduo positivo num teste de ELISA e que também seja positivo num teste de Western Blot dificilmente não estará infectado. Como a maioria dos testes de ELISA não diferencia o HTLV-1 do HTLV-2, a única forma de se saber com qual dos vírus a pessoa está infectada é pelo exame de PCR, ou ainda, por alguns tipos mais modernos de teste de Western Blot.
Existem ocasiões em que o Western Blot resulta no que se denomina de “padrão indeterminado”. Isto significa que não foi possível para o teste ter certeza se realmente o individuo está realmente infectado ou não. Nestes casos pode-se repetir este mesmo teste num intervalo de 3 a 6 meses, ou, ainda, se utilizar do teste de PCR. Este teste de PCR é o mais sensível e específico para se identificar o HTLV. O grande problema dele está no seu alto custo.
O que acontece com a pessoa infectada?
O HTLV-1 só provoca algum tipo de doença em cerca de 5% das pessoas infectadas, ou seja, de cada 100 pessoas infectadas pelo vírus, apenas 5 adoecem. Os demais permanecerão assintomáticos (sem qualquer sinal de doença) pelo resto das suas vidas, só vindo a descobrir que têm o vírus se forem, por exemplo, doar sangue e o exame de triagem do banco de sangue detectar a infecção. Apesar dessas pessoas serem assintomáticas elas podem infectar outras pessoas (pela amamentação, pela doação de sangue ou de órgãos, pelo uso compartilhado de agulhas ou seringas, ou qualquer objeto cortante que possa estar sujo de sangue, e pela relação sexual sem o uso da camisinha), daí a importância de se saber quem tem o vírus, independentemente de ter algum sintoma ou não.
Não se sabe ainda a exata proporção de pessoas infectadas pelo HTLV-2 que irá desenvolver alguma doença em alguma época das suas vidas. Acredita-se, entretanto, que esta proporção deva ser muito menor que os 5% dos infectados pelo HTLV-1. Alguns cientistas acreditam até que o HTLV-2 não provoque nenhuma doença específica, embora esta visão não deva ser verdadeira.
Quais as doenças causadas pelo HTLV?
Conforme visto na resposta à pergunta anterior não se sabe ao certo se o HTLV-2 causa alguma doença específica ou não. Possivelmente, numa pequena proporção de indivíduos infectados o HTLV-2 cause uma doença neurológica parecida com a doença neurológica causada pelo HTLV-1 (a mielopatia associada ao HTLV-1, também conhecida como paraparesia espástica tropical associada ao HTLV-1). Já o HTLV-1 pode causar as seguintes doenças:
Mielopatia associada ao HTLV-1 (também conhecida como Paraparesia espástica tropical associada ao HTLV-1):
• A medula espinhal é uma parte do sistema nervoso por onde passam os impulsos elétricos que saem e que chegam ao nosso cérebro. Pela medula passam todos os impulsos nervosos que movem os nossos músculos, controlam os movimentos intestinais e da bexiga urinária, fazem com que tenhamos sensibilidade ao tato, ao frio e ao calor e a dor. Mielopatia é o nome que os médicos dão às doenças da medula espinhal;
• A mielopatia associada ao HTLV-1 é uma doença causada por uma inflamação na medula espinhal provocada pelas células infectadas pelo HTLV-1. Na realidade o vírus sozinho parece não fazer mal algum à medula. A infecção dos linfócitos T é que, em algumas pessoas (aqueles 5% infectados que vão desenvolver doença em alguma fase das suas vidas), provoca um tipo de reação alérgica que faz com que as células de defesa do nosso organismo passem a agir de forma errada: em vez de só atacar o vírus, elas passam também a atacar o tecido normal da medula espinhal. Como o vírus está escondido dentro da célula, ele fica protegido do ataque enquanto que o tecido da medula sofre uma inflamação progressiva, que faz com que os impulsos nervosos que trafegam por lá sejam conduzidos de forma mais lenta ou até mesmo bloqueados.
Os sintomas mais comuns (embora nem todos os pacientes os tenham) da mielopatia associada ao HTLV-1 são:
• Fraqueza nas pernas (o termo técnico paraparesia refere-se a esta fraqueza);
• Rigidez, endurecimento dos músculos das pernas (o termo técnico para isso é espasticidade, daí o nome paraparesia espástica). Em alguns casos este endurecimento pode levar o paciente a ter espasmos, câimbras e tremores (também conhecidos pelo nome de clônus) nas pernas. Algumas pessoas queixam-se também de endurecimento e sensação de peso nas costas;
• Problemas para controlar a urina (urina solta ou presa, acordar várias vezes à noite para urinar, ter que correr para ir ao banheiro) e as fezes (prisão de ventre);
• Pele muito seca, boca e olhos secos;
• Dormências e formigamentos, dores, sensação de queimação nos pés ou nas pernas;
• Dores nas articulações (juntas)
Leucemia/linfoma de células T do adulto
• Alguns poucos indivíduos infectados pelo HTLV-1, apresentam uma predisposição genética específica para desenvolver uma doença, onde as células infectadas pelo vírus começam a se proliferar desordenadamente. É importante que se diga que existem várias formas de leucemia/linfoma de células T do adulto. Desde formas brandas – quase sem sintomas – até formas mais graves. Só uma pequena proporção de pessoas terá a mielopatia e a leucemia ao mesmo tempo.
• Os sintomas mais comuns dessa doença são:
>> Lesões da pele (vermelhidão excessiva, placas avermelhada, descamação, coceira, tumorações)
>> Aumento dos gânglios do pescoço, das axilas, das virilhas (ínguas)
>> Barriga inchada (por acúmulo de líquidos, aumento do baço e do fígado)
>> Anemia, febre persistente e pneumonias de repetição
As doenças causadas pelo HTLV têm cura?
No atual estágio da ciência, ainda não se descobriu um remédio que elimine definitivamente o HTLV do organismo humano, no entanto TODAS as doenças causadas pelo vírus têm tratamento. Isso significa que uma pessoa infectada deverá SEMPRE procurar auxílio médico especializado para ser examinada. Isso possibilitará a detecção precoce de qualquer sinal de doença. É importante que se diga que, quanto mais cedo se tratam as doenças causadas pelo HTLV, maiores as possibilidades de que o tratamento seja eficaz. Deste modo, embora ainda não CURÁVEIS (esperamos que, com o avanço da medicina, isso possa ser feito daqui a algum tempo) as doenças associadas ao HTLV são TRATÁVEIS. O sucesso do tratamento dependerá de vários fatores, dentre os quais se destacam dois: (1) precocidade do diagnóstico e (2) persistência do paciente em seguir as orientações médicas.
Assim, da mesma forma que diabetes e hipertensão arterial, que são doenças que exigem um tratamento constante e a longo prazo, o mesmo se aplica às mielopatias associadas ao HTLV-1 e às leucemias/linfomas provocadas pelo vírus.
O que uma pessoa infectada pelo HTLV deve fazer?
• Deve procurar um serviço médico especializado. Os hospitais universitários do estado do Rio de Janeiro (Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ, Hospital Universitário Pedro Ernesto da UERJ, Hospital Universitário Gaffrée Guinle da UNIRIO e Hospital Universitário Antonio Pedro da UFF) possuem serviços ambulatoriais de doenças infecciosas e parasitárias que podem orientá-lo. Na FIOCRUZ temos um setor de pesquisa em HTLV, localizado no Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (IPEC), especificamente dedicado ao estudo de indivíduos com esta infecção. Por ser um hospital exclusivamente de pesquisa, no entanto, não estamos abertos ao público em geral. Atendemos atualmente somente casos referenciados por médicos, e que preencham alguns critérios específicos.
• Os especialistas médicos que mais conhecem o HTLV são, em geral, o INFECTOLOGISTA, o HEMATOLOGISTA e o NEUROLOGISTA. Na dúvida, procure um desses centros e um desses especialistas. Eles certamente saberão orientá-lo.
• Deve seguir as orientações e tratamentos médicos que forem receitados pelos especialistas em HTLV. Evite conselhos de leigos ou de não especialistas.
• Não deve doar sangue; não deve ser doador de órgãos; deve usar sempre preservativo (camisinha) durante as relações sexuais; no caso de mulheres grávidas ou de mulheres que acabaram de ter filhos, estas devem, caso tenham condições de comprar leite artificial, não amamentar e utilizar leite artificial, ou então, devem amamentar o menor período de tempo possível.
Cartilha elaborada pelo Laboratório de Neuroinfecções do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas - Fundação Oswaldo Cruz/RJ